Amazônia tem queimada recorde em 2024
Written by Eduardo de Oxalá on 23/08/2024
Amazônia tem temporada recorde de queimadas, corredor de fumaça se espalha e afeta 10 estados
Com queimada recorde e muita fumaça, ventos que deveriam trazer umidade da floresta estão, na verdade, carregando fumaça para o restante do país.
O céu está cinza e o ar está difícil de respirar. A densa camada que vem cobrindo o céu é reflexo das chamas na Amazônia Legal, que registra o maior número de focos de fogo em 19 anos, e se soma com a seca que castiga mais de mil cidades brasileiras.
Segundo especialistas, a fumaça afeta dez estados e vai seguir sobre o país até o fim da semana.
A Amazônia está em chamas. A floresta registrou 63 mil focos de fogo desde janeiro até agora. O número é o maior desde 2014 e pode aumentar, já que o levantamento é feito mês a mês e agosto ainda não terminou. Toda essa fumaça que cobre a floresta está viajando milhares de quilômetros.
Esse volume ainda se soma ao que vem do Pantanal, de Rondônia com a queimada no Parque Guajará-Mirim há um mês, e da Bolívia, formando uma densa camada cinza na atmosfera que é arrastada para o restante do mapa formando um “corredor de fumaça”.
Até agora, há registros de fumaça nos seguintes estados:
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Acre
Rondônia
Oeste do Paraná
Parte de Minas Gerais
Trechos de São Paulo
Amazonas
– A previsão é que a partir desta quarta-feira (21) o volume de fumaça piore com o vento frio que traz a frente fria do fim de semana.
Por que isso está acontecendo?
A primeira causa está relacionada à intensidade do fogo. Na Amazônia Legal, foram registrados, só no mês de agosto, mais de 26 mil focos de incêndio. No mesmo período do ano passado, por exemplo, o número era de 14,8 mil. Este é o pior momento para a floresta neste período dos últimos 19 anos, considerando o período de janeiro a junho. (Veja a evolução no gráfico abaixo)
No restante do país, o cenário também não é favorável. De forma geral, o país está no pior momento em relação aos focos de incêndio da última década.
O segundo fator é a seca, que serve como ignição para os focos de incêndio, somando-se às queimadas ilegais. Geralmente, a estiagem acontece de agosto a outubro, mas o pico acontece em setembro, quando sentimos mais os impactos. No entanto, meteorologistas explicam que ela chegou antes do previsto, ainda em julho. (Leia mais aqui)
A causa disso é uma consequência do El Niño, que deixou um déficit hídrico com a seca que causou no ano de 2023, e que se soma ao aquecimento do Atlântico, que continua fervendo. A consequência disso é menos umidade e chuva pelo país, além do aumento das temperaturas, por causa do aquecimento global.
Segundo o Cemaden, que também monitora as secas no país, há mais de mil cidades em situação de estiagem, variando de severa a moderada. Entre os municípios da Amazônia, mais de 60% estão sob essa classificação. Esse cenário torna o território mais propenso ao fogo e à expansão dos incêndios.
Isso fez com que o período crítico de queimadas chegasse antes do tempo e a preocupação é se ele vai terminar antes ou se vamos ter um período de queimadas estendido.
“O que mais preocupa este ano, em relação aos anteriores, é que não se sabe ao certo se o que está acontecendo é simplesmente uma antecipação do período crítico ou se, realmente, teremos um período mais longo de exposição à fumaça tóxica, já que o pico da poluição em 2023 foi em outubro. Seria algo inusitado e extremamente preocupante.”
— Jesem Orellana, epidemiologista e pesquisador da Fiocruz.
O segundo ponto são as correntes de vento. Há um fluxo natural que vem do oceano, entra no território brasileiro pelo nordeste, passa pela Amazônia ganhando umidade e segue para o sul do Brasil. Esse é o mesmo sistema, por exemplo, que afeta o país com a seca que existe no Norte. (Veja abaixo)
No entanto, dessa vez, ao passar pela Amazônia, a corrente encontrou a fumaça e continuou seu ciclo, empurrando-a para o Sul do país, formando um “corredor de fumaça”.
Esses ventos continuam em fluxo para o restante do país, o que fez espalhar a fumaça, atingindo pelo menos dez estados brasileiros.
Eduardo Coelho
Fonte: G1