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Lideranças Yanomami relatam a rotina de medo após ataques de garimpeiros ilegais

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Lideranças Yanomami relatam a rotina de medo após ataques de garimpeiros ilegais

Programa conversa com duas das principais lideranças Yanomami: Davi e Dario Kopenawa

José Eduardo Bernardes e Vanessa Nicolav11 de Junho de 2021 às 08:32

Desde o dia 10 de maio, indígenas Yanomami, de Roraima, convivem com o medo. Garimpeiros ilegais, armados, têm feito investidas contra a comunidade do Palimiu, na divisa com o estado do Amazonas. Duas crianças morreram afogadas ao tentar se esconder dos tiros efetuados na aldeia.

No último dia 5 de junho, o Palimiu voltou a ser atacado. Garimpeiros desembarcaram, em quatro barcos, e atacaram os indígenas com bombas de gás lacrimogêneo.

O ataque foi uma resposta dos garimpeiros ilegais a uma operação do Exército Brasileiro e da Polícia Federal, para desativar sete garimpos na região.

Mesmo após as operações das forças de segurança, lideranças indígenas revelam a ausência de respostas mais concretas e efetivas contra os ataques dos garimpeiros.

Para Dario Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), os interesses envolvidos na extração de minérios na região vão além da iniciativa individual de trabalhadores ilegais que ocupam a Terra Yanomami, homologada há pelo menos 20 anos.

“Os empresários estão apoiando o garimpo ilegal. Eles têm o avião, o combustível, o maquinário pesado, as armas pesadas. Será que os garimpeiros comprariam? Estamos há quase um mês sem segurança do estado brasileiro, do Exército, da Polícia Federal, do Ibama e da Funai, para dar assistência na comunidade. Eles cobraram novamente com o Ministério Público Federal, com a Frente de Proteção Yanomami Ye’Kuana, vinculado à Funai”, afirma Kopenawa.

No BDF Entrevista desta semana, além de Dario Kopenawa, outra liderança Yanomami relata a rotina assustadora que ronda a etnia: o presidente da Hutukara e xamã, Davi Kopenawa.

“O garimpo hoje, na terra Yanomami, é maior, cresceu. Entraram muitas pessoas. Como eles são muitos, estão subindo na cabeceira do rio Uraricoera, são muitos buracos, muito ruim para nós que moramos lá”, destaca a liderança.

Além da violência de garimpeiros, a prática extrativista também tem deixado marcas importantes na maneira de vida dos indígenas. A contaminação do rio Uraricoera pelo mercúrio liberado pelo garimpo ilegal restringiu a pesca e o acesso à água para os Yanomamis.

O medo de deixar a aldeia também tem impedido que os indígenas saiam para caçar.

“Nós Yanomami não estamos conseguindo respirar bem. Porque estamos vivendo um ambiente de guerra, entre garimpo e yanomamis. A violência está crescendo e cada vez mais estamos correndo riscos, as crianças, as mulheres”, relata Davi Kopenawa.

“Nós não conseguimos caçar, não conseguimos nos alimentar, alimentar nossos filhos. Nós estamos muito cansados, porque nós mesmos não estamos conseguindo nos proteger na comunidade do Palimiu”.

Nesta sexta-feira (11), o Supremo Tribunal Federal (STF), que chegou a determinar que o governo federal se responsabilizasse pela segurança dos Yanomami, coloca em votação uma ação de reintegração de posse do governo de Santa Catarina, que pretende retirar os povos Xokleng, Guarani e Kaingang de uma Terra Índigena chamada Ibirama-Laklanõ. A decisão deverá reverberar para outras ações do tipo.

Outra ação que deverá ser julgada nesta sexta, é a do parecer 001/2017, da Advocacia-Geral da União (AGU), suspenso pelo ministro Edson Fachin.

Chamado de “marco temporal”, a medida tenta reverter demarcações de terras indígenas, indicando que essas populações só teriam direito à terra se elas estivessem sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

Edição: Leandro Melito