O Beijo da Vida: a premiada foto que é uma lição de sorte, amizade e heroísmo

O Beijo da Vida
Créditos: Jacksonville Historical Society

Foto Reprodução Internet!

O fotógrafo nova-iorquino Rocco Morabito estava dirigindo pelas ruas de Jacksonville, Flórida, EUA em julho de 1967 a caminho de cobrir uma greve de ferroviários. Uma potencial tragédia e um potencial milagre, no entanto, mudaria sua carreira, lhe rendendo o importante Prêmio Pulitzer de 1968.

A foto intitulada O Beijo da Vida (The Kiss of Life) mostra o funcionário da companha elétrica da cidade J.D. Thompson fazendo respiração boca a boca no colega Randall G. Champion, após este ficar inconsciente ao levar um choque de uma linha de baixa tensão. Eles estavam realizando uma manutenção de rotina quando Champion perfurou uma das linhas de baixa tensão no topo do poste. Seu arnês de segurança impediu uma queda, e Thompson, que estava subindo abaixo dele, rapidamente o alcançou. Champion não estava respirando, e seu rosto estava cinza-azulado, segundo o amigo, que então realizou uma reanimação boca a boca.

Dadas as circunstâncias, não era possível realizar a reanimação cardiorrespiratória (RCR), mas Thompson levou ar aos pulmões de Champion até sentir um leve pulso do amigo, depois soltou o cinto e desceu com ele no ombro.

Thompson e outro trabalhador puderam realizar a reanimação cardiorrespiratória quando desceram, e Champion conseguiu, no momento em que os paramédicos chegaram, finalmente se recuperar completamente.

Morabito relata:

“Passei por esses homens trabalhando e continuei com minha tarefa. Tirei oito fotos na greve. Pensei em voltar e ver se conseguia tirar outra foto […] E então ouvi gritos. Eu olhei para cima e vi esse homem pendurado. Meu Deus. Eu não sabia o que fazer. Tirei uma foto rapidamente. J.D. Thompson correu em direção ao poste. Fui ao meu carro e chamei uma ambulância. Voltei à pole e J.D. estava fazendo respiração boca-a-boca em Champion. Eu me afastei até chegar perto de uma casa e me posicionei já que não podia ir mais longe. Tirei outra foto. Até que ouvi Thompson gritando: Ele está respirando!

Thompson foi chamado de herói, muitas vezes, mas ele diz não ser nada de mais:
Se houvesse outras pessoas lá, se eu não tivesse chegado lá primeiro, elas teriam feito exatamente a mesma coisa que eu. Isso já foi feito muitas vezes antes; a vida das pessoas foram salvas. Mas não há fotos.

Já Champion comentou anos depois, em uma entrevista:

Muitas pessoas não sobrevivem. A questão é quanto tempo você fica preso ao fio, sabe? Muitas pessoas morrem instantaneamente.

Champion não apenas sobreviveu a isso graças a Thompson, mas viveu por mais 35 anos. Ele morreu em 2002 aos 64 anos, falecendo vítima de um infarto. Thompson ainda está vivo.

Foto Reprodução Internet!

As três pessoas que participaram da foto. Da esquerda pra direita: R. G. Champion, que levou o choque, J. D. Thompson que o salvou e Rocco Morabito, que ganhou o Prêmio Pulitzer pela foto. Os três homens se reuniram pra comemorar os 20 do prêmio. Champion estava no hospital se recuperando de uma cirurgia de marcapasso na ocasião.
Créditos: Arquivo do Times-Union

Morabito contatou o editor-chefe do jornal Dick Bussard: “Acho que tenho uma imagem muito boa”.
O editor Bob Pate veio com o nome “O Beijo da Vida” e, naquela tarde, a foto e a legenda encontraram espaço na primeira página.
Rocco Morabito ganhou o Prêmio Pulitzer de 1968 pela Fotografia de Última Hora (categoria inaugurada por sua vitória) por “O Beijo da Vida”. A fotografia ao invés de servir apenas de destaque para o Jacksonville Journal que trabalhava, foi publicada em jornais de todo o mundo.
O jornal deu uma festa, onde seus colegas do jornal levantaram Morabito em seus ombros. “Esse é o nosso Rocco!”, dizia uma manchete que registrou esse momento no editorial da revista.

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