A iniciativa surgiu na Península de Itapagipe que compreende 14 bairros, onde moram 170 mil pessoas
Elen Carvalho
Brasil de Fato | Salvador (BA) | 29 de Novembro de 2021 às 16:57
O racismo ambiental é um tema que pode parecer estranho para muitas pessoas, mas já vem sendo discutido por organizações e movimentos populares baianos há décadas. A Península de Itapagipe é uma área que abrange 14 bairros de Salvador, onde moram cerca de 170 mil pessoas, sendo a maioria mulheres negras. Foi nessa região que surgiu o Observatório do Racismo Ambiental, uma iniciativa do Centro de Arte e Meio Ambiente e da Rede CAMMPI – Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península de Itapagipe, com apoio da CESE- Coordenadoria Ecumênica de Serviço.
Um dos responsáveis pela iniciativa é Raimundo Nascimento, que é geógrafo, mestre em educação e ativista. Ele conta o que motivou a criação do Observatório. “Foram as condições de vida da população negra que mobilizaram o Centro de Arte e Meio Ambiente a criar o Observatório, que se trata de um espaço virtual de monitoramento de políticas públicas, tendo como referência as estratégias territoriais e comunitárias, de mais de duas décadas, promovidas pela CAMMPI”, afirma Raimundo.
Raimundo explica ainda como é possível definir o racismo ambiental. “As raízes do debate sobre o racismo ambiental surge nos Estados Unidos no bojo das lutas pelos direitos civis e toma o mundo a partir dos anos 1980. É focado na violação de direitos da população negra. Na contemporaneidade brasileira o termo vem sendo aprofundado pelos movimentos negro e de justiça ambiental. Portanto, o Observatório se vincula aos estudos produzidos no Brasil de como o racismo institucional e determinante e produtor de desigualdade nas comunidades, terras e territórios da população negra e dos povos indígenas”, observa.
Na Península de Itapagipe foi onde surgiu a palafita dos Alagados, considerada a maior do Brasil e das Américas. De início, o Observatório denuncia um número insuficiente de Unidades Básicas de Saúde, além de baixa cobertura de equipes de saúde da família, levando em conta o número de moradores/as da região. Sobre os próximos passos do projeto, Raimundo afirma que “essa é uma tecnologia de mapeamento territorial e comunitário dos impactos do racismo ambiental sobre a vida da população negra onde quer que a violação de direitos aconteça. Nesse momento, estamos focados na sistematização dos dados levantado na Península de Itapagipe e buscando parcerias para captação de recursos para que essa iniciativa seja possível de ser replicada em outros bairros, em outros territórios negros do estado da Bahia”.
Edição: Jamile Araújo