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Mãe de Santo é assasinada na Bahia.

Escrito por em 18/08/2023

Líder quilombola Mãe Bernadete é assassinada em terreiro na Bahia

Suspeita inicial é de que crime tenha relação com a invasão de terras na região. Filho da vítima foi assassinado em 2017

Foto reprodução Internet!

A yalorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico, que é mais conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17), em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. O crime aconteceu dentro do terreiro que era regido pela religiosa. A suspeita inicial é de que o caso esteja ligado a tentativas de invasão e ocupação de terras na região.

O terreiro teria sido invadido por homens armados, que ainda fizeram familiares da vítima reféns, e fugiram levando celulares. O crime aconteceu há quase 6 anos da morte do filho de Mãe Bernadete, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, que era mais conhecido como Binho do Quilombo. Os casos podem ter relação, como pontua Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).

“Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho tava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada. Muito triste para nós”, lamentou Denildo.

De acordo com Denilson, as lideranças das comunidades quilombolas e terreiros de Simões Filho são ameaçadas com frequência por grupos ligados à especulação imobiliária, interessados em ocupar os territórios.

Vale lembrar que a cidade fica a menos de 30 km de Salvador, que recentemente foi identificada pelo Censo Quilombola do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) como a capital com a maior população quilombola do país, tendo quase 16 mil quilombolas e 5 quilombos oficialmente registrados.

Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, a Conaq exige que o Estado tome medidas imediatas para a proteção das lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. “A família Conaq sente profundamente a perda de uma mulher tão sábia e de uma verdadeira liderança. Sua partida prematura é uma perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos”, diz o posicionamento.

“É dever do Estado garantir que haja uma investigação célere e eficaz e que os responsáveis pelos crimes que têm vitimado as lideranças desse Quilombo sejam devidamente responsabilizados. É crucial que a Justiça seja feita, que a verdade seja conhecida e que os autores sejam punidos. Queremos Justiça para honrar a memória de nossa liderança perdida, mas também para que possamos afirmar que, no Brasil, atos de violência contra quilombolas não serão tolerados”.

O assassinato da religiosa será apurado pela Polícia Civil. Ainda não há detalhes sobre autoria do crime. Em posicionamento publicado no Twitter, o governador Jerônimo Rodrigues disse estar indignado com o crime e detalhou que, assim que tomou conhecimento do caso, determinou a mobilização da corporação e da Polícia Militar para o local, e pediu firmeza nas investigações.

Uma comitiva liderada pelos ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos será enviada na sexta-feira (18) para a comunidade, conforme anunciado pelas pastas nas redes sociais. O grupo deve fazer reuniões presenciais com órgãos baianos e prestar atendimentos às vitimas e familiares, para que seja garantida proteção e defesa do território. O Ministério da Igualdade Racial também irá convocar reunião extraordinária do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso.

Em nota, a Fundação Cultural Palmares também expressou pesar. Segundo o posicionamento, o presidente João Jorge Rodrigues, que é baiano, entrou em contato com o governador e pediu a apuração imediata sobre a “brutalidade ocorrida”. Ainda segundo João Jorge, é necessário fazer justiça, pois casos como este atentam contra a dignidade da população negra.

“Nós expressamos a nossa dor, a nossas tristeza . Foi uma morte cruel, violenta e covarde que atingiu também ao nosso povo. Chega de violência. É preciso parar com essa tentativa de destruição do nosso povo”, disse João Jorge.

A comunidade é formada por mais de 280 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O quilombo já foi certificado pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação ainda não foi concluído.

O levantamento da Rede de Observatórios de Segurança, que foi divulgado em junho deste ano, já apontava a Bahia como o segundo estado do Brasil com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais. Atrás apenas do Pará, o estado registrou 428 vítimas de violência no intervalo de 2017 a 2022.

Foto reprodução Internet

 

 


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