O avanço da ciência e da medicina aumentou consideravelmente a qualidade e a expectativa de vida do ser humano e, ao mesmo tempo, colabora para enterrar alguns preconceitos. Durante a Idade Média, diversas doenças até então sem explicação eram diagnosticadas como resultado de bruxarias, feitiços ou até incorporação do diabo.
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LUIZ FELIPE SILVA
PUBLICADO 14 DEZ 2017 – 04:00 AM EST | ATUALIZADO 15 MAR 2018 – 02:50 PM EDT
Tais “diagnósticos” levaram muita gente a julgamento, cujas condenações podiam chegar até a forca. Hoje, felizmente, isso não ocorre mais na maior parte do mundo.
Veja problemas de saúde que já foram motivo de perseguição:
Epilepsia
A epilepsia é uma condição neurológica que perturba a atividade elétrica do cérebro e, assim, resulta em crises convulsivas – no mundo todo, são aproximadamente 65 milhões de pessoas com este quadro. Bem, mas isso é o que sabemos hoje. Durante 300 anos, ela foi considerada oficialmente bruxaria.
O livro The Malleus Malleficarum, escrito no fim dos anos 1400 e base dos julgamentos da Inquisição até 1692, condenava os portadores de epilepsia como bruxas ou bruxos. De acordo com a Epilepsy Foundation, milhares ou até milhões de pessoas, principalmente as mulheres, foram condenadas à morte.
“Mas não há nenhuma enfermidade corporal, nem lepra ou epilepsia, que não pode ser causada por bruxas… Pois muitas vezes descobrimos que certas pessoas foram afligidas com epilepsia ou desmaios por meio de ovos que foram enterrados com cadáveres, especialmente os cadáveres das bruxas, juntamente com outras cerimônias das quais não podemos falar, particularmente quando esses ovos foram dados a uma pessoa como alimentos ou bebidas “, afirmava o livro.
Doenças mentais (como esquizofrenia)
Este é um dos casos que a barreira do preconceito ainda não foi completamente transposta. Muita gente ainda sofre com essas doenças e com os problemas sociais que elas trazem.
No país com maior taxa de suicídio das Américas (e quarto do mundo), este é um dos problemas. Uma reportagem produzida pelo jornal britânico The Guardian mostrou como na Guiana os problemas mentais são atribuídos à bruxaria e as comunidades afastam os doentes e até os agridem, em casos mais extremos.
Um artigo científico produzido pelo Instituto de Psiquiatria da Noruega afirma que “ser possuído por demônios ou espíritos malignos é uma das formas mais antigas de explicar transtornos físicos e mentais”. E alerta que este tipo de diagnóstico baseado em crenças místicas é utilizado por grupos fundamentalistas até hoje.
“Durante a Idade Média da Europa, a feitiçaria foi considerada apenas uma das várias causas de doença mental. As teorias astrológicas prevaleceram sobre as teorias da medicina. Além disso, foram feitas distinções entre excentricidade, loucura e visões e revelações religiosas. Um grande número de supostas bruxas e pessoas possuídas que foram queimadas provavelmente apresentaram distúrbios mentais visíveis”, conclui o artigo.
Delírio causado por fungos
Shiitake, shimeji e champignons são uma delícia, não? Esses cogumelos são fungos usados na alimentação humana, mas durante muito tempo sabíamos o que podíamos ou não podíamos comer apenas testando. E certamente você já ouviu falar que alguns destes alimentos podem gerar alucinações.
A rede de comunicação pública norte-americana PBS relata que casos de contaminação decorrentes dos fungos alucinógenos conhecidos como ergot (na qual há substância do LSD) eram tratados como episódios de feitiçaria. Mais que isso: este pode ter sido o gatilho para o famoso episódio das Bruxas de Salém, nos EUA.
Segundo a hipótese, os fungos contaminaram as plantações de trigo e de outros alimentos e causaram alucinações em massa na cidade de Salém, levam a um estado de histeria coletiva. Em 1692, os julgamentos de Salém levaram mais de 150 pessoas à cadeia e 25 à morte.
Encefalite letárgica
A doença é descrita pelo National Institute of Neurological Disorders and Stroke como um quadro que pode levar os paciente ao coma ou “podem experimentar movimentos oculares anormais, fraqueza do corpo superior, dores musculares, tremores, rigidez do pescoço e mudanças comportamentais, incluindo psicose”. Embora seja rara e diagnosticada somente no século 20, especula-se que seus ataques também tenham sido condenados como reações demoníacas.